naquele mosteiro renascentista - renovava de há muito seu
voto -
se julgando um destino privilegiado meio a santa-fé -
rezava todos dias - todas as noites - a mesma prece
proclamando-se caridosa com os pobres -
os tais menos favorecidos como usam o termo
dizia que o alicerce da casa de deus é fortaleza
seguia os passos daquele cristo tesudo -
pregado na cruz - de pano amarrado na cintura
também vivia na consciência do desapego -
chinelas franciscanas - castidade refletindo em sua esmerada
veste
certo que ali materialmente sempre teria segurança -
em qualquer canto do mundo madre neiva pela igreja era
hóspede
assim fica fácil contemplar os que se alimentam de suas
próprias vísceras
da luxúria que exaspera a pele -
do mendigo que dorme na calçada barroca batendo uma punheta
dentro do casulo mantendo distância sentia-se abençoada
madre neiva que adorava os grandes sermões de frei inácio
homem esquio de olhar triste - leitor de vieira - tinha o
dom da oratória
uma fala vibrante naquele corpo franzino que alegrava tanto
resguardava em seu coração os conselhos de frei inácio
o amor de deus fazia-se porta-voz pela boca daquele santo
homem
ela que admirava tanto a sabedoria de inácio pelos jardins
do mosteiro
visionários para com o futuro da ordem - compartilhavam da
mesma vontade -
divulgar seus trabalhos por todo continente africano
tempo foi passando e os olhos de madre neiva -
começaram a exercer em frei inácio um certo fascínio
ele que sempre negou espelho -
agora feliz contemplava aquelas retinas verdejantes
aquela boca bonita cheia de trejeitos de sorriso
esplendoroso
e no obscuro de seu âmago - descobriu em madre neiva uma
formosura herege
na manhã seguinte - antes dos primeiros raios de sol -
chicoteou suas costas - tomou banho gelado -
e resolveu não mais pensar naquilo
só não conseguia tirar da cabeça um aforismo de sócrates:
o amor não é um deus - nem um mortal - é sim um grande
demônio
sempre soube o quanto dificultoso era extirpar desejo
e que a reprimenda do mesmo atormentaria ainda mais sua
memória
foi de pronto falar com madre neiva da eletricidade que
atordoava seu corpo
houve de imediato correspondência -
madre neiva sentia a mesma descarga elétrica - a mesma
estranha pulsação
acertou com frei inácio um encontro no subsolo do mosteiro
naquela noite o silêncio foi anfitrião de todo gozo
madre neiva se entregaria aos demônios da volúpia
mal se encontraram e ela foi logo chupando seu poste perto
da escada com bola e tudo
oferecendo seus seios volumosos sugados por aquela gulosa
energia
tudo foi acontecendo de um jeito primitivo e sem culpa -
frei inácio encharcou seu rosto de porra -
depois deu um tapa e saiu correndo ...
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