outra me mandou pavesse logo de cara
diz que enxaqueca e mal humor tomou conta
que o povinho aqui só escreve pornografia
sentia saudades daqueles tempos que supostamente trabalhava
com criança
onde levantar cedo tinha um jeito gostoso
poesia nos primeiros raios de sol batendo na janela
porém hoje nada interessa -
feito um bêbado dizendo que sou referência neste exílio
deixei pra trás a cama - o conforto daquela mesmice e fui
morar no azul deste canto
lá contemplei uma mulher sozinha -
redundante feito um diário - adjetivando as coisas que falo
lógica nenhuma pode aplacar o sonho
vivo sem o balsamo de tua bênção
sem a nomenclatura da razão que veio corromper a música
deixa te contar uma coisa - meu crânio já ardeu mil vezes neste
fogo
estilo dino campana neste labirinto
ataquei memória sem nenhuma semelhança
andarilho nas terras do norte - ouvi o coaxar das rãs pela
estrada
dormi em palhoça fia e nem sou tão romântico como imagina
aqui a barulheira infernal do vizinho é uma droga -
de amado batista à patativa - o repente não sara
olha só que legal - o terrorista poetizando a palavra porca
a favela acordando no domingo com um tesão da porra
rimbaud sentado na praça chupando um sorvete
uma manada de carro fazendo algazarra nas vísceras daquele
beco
sei que tu não sente meu orixá - prefere ler camus toda
alegrinha
assistir um filminho cult no cineminha bacana lá do centro
depois caminhar frígida - bem alimentada e tomar um táxi
afaga minha fauna - minha fuga
qualquer putaria tem mais fôlego que adorar o próprio umbigo
toda subliteratura vale mais que teu deleuze - teu focault
de cabeceira -
que pra ladainha da loucura deu luxúria
na real vou atirando pelas entrelinhas sem nenhuma farsa
desgraça
vez em quando a certo
mas estes erros são trampolim na arquitetura duma nova
imagem
um bazar em budapeste - uma sauna gay em beirute
uma trepada em marrocos sem precisar de marcha
é a vida avisando que o vento que se aproxima é forte
que não é quadro - nem van gogh que exalta meu sangue
soube que a solidão vagabunda de um pirilampo ritmava o gozo
do tempo
mistério misturava o musgo - não é marra não
floresta que adentro - longe dos broxas que deixaram
de ser bruxos
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