quinta-feira, 19 de março de 2015

vinte e nove anos - quatorze de cadeia

foi se perdendo pelo caminho
o gosto ficou insípido
derramamentos de luz
arruinavam as proezas do ventre
depois de tudo contaria história:
ela que tinha olhos verdes
barba milenar
nasceu hermafrodita
nas operetas do sonho
vivia silenciosa como uma centópeia
amante de butoh
se conciliava com o cosmo
travesti daquela sombra
uma so mentira
invocando a energia do vento
dormia com todo mundo
mas em nenhum ombro chorava
dizia que não era besta de acreditar
e que tudo era fisiológico
ela que amava os livros
nos mesmos cospia
só botando fe no estupro do sol
que anunciava o dia
ardia em sua natureza outro veredicto
pela saga do cisco
bailarino invadiu seus olhos
chovia muito naquela hora
os presidiários degustavam o cu daquela figura
no patio guimbas de cigarro eram valiosas
nossa deusa hermafrodita
ali construiu sua morada
e suicidou-se neste musgo

zé raimundo
conhecido por jurema
vinte e nove anos
quatorze de cadeia

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